Lisboa cai no ranking das cidades inteligentes

Escultura de Bordalo II em frente ao Meo Arena, no Parque das Nações (foto: wsdamiao)
Escultura de Bordalo II em frente ao Meo Arena, no Parque das Nações (foto: wsdamiao)

A única cidade portuguesa abrangida pelo estudo global desenvolvido pelo Institute for Management Development (IMD), em 2024 Lisboa surge no 108º lugar do Smart City Index (SCI), registando uma queda acentuada de nove lugares face à 99ª posição ocupada em 2023.

À semelhança de anos anteriores, a habitação volta a ser apontada como a principal preocupação dos lisboetas, com 91,6% dos inquiridos a considerar que é um problema encontrar uma casa cuja renda mensal seja equivalente a um máximo de 30% do salário, enquanto 88,3% afirma que está deve ser uma área de intervenção prioritária.

Logo atrás da habitação, os serviços de saúde (57,7%), a corrupção/ transparência (53%), o trânsito (47,8%) e os transportes públicos (39,1%) são os outros fatores que mais pesam na avaliação da cidade e que os lisboetas também identificam como de intervenção prioritária.

Respondendo a questões concretas sobre infraestruturas, para 83,7% dos inquiridos os congestionamentos de trânsito representam um problema, enquanto apenas 16.2% considera que «a corrupção de oficiais locais não é causa de preocupação».

No âmbito tecnológico, a corrupção, trânsito e a poluição dominam as respostas menos satisfatórias: 72.3% dos participantes não considera que o acesso público às finanças da cidade tenha reduzido a corrupção; 64.7% não considera que as apps de partilha de viagens de carro tenham reduzido congestionamentos; e 61.4% não considera que sites/apps permitam aos residentes monitorizar eficazmente a poluição do ar.

Pelo lado positivo, as infraestruturas, a oferta cultural da cidade, os serviços de reciclagem e os espaços verdes destacam-se como os aspetos mais satisfatórios para 74.8%, 63.5% e 63% dos inquiridos, respetivamente. No plano tecnológico, pontuam favoravelmente a possibilidade de comprar online bilhetes para atividades culturais e a possibilidade de aceder a anúncios de trabalho pela internet (para 81.3% e 70.5% dos inquiridos, respetivamente), enquanto 65.5% reconhece que o processamento online de documentos oficiais levou a uma redução dos tempos de espera.

Relativamente às atitudes dos lisboetas face ao recurso à tecnologia no dia a dia, 63.4% dos inquiridos mostram-se dispostos a conceder dados pessoais para melhorar os problemas de trânsito e 73.7% estão de acordo com a utilização de tecnologias de reconhecimento facial para baixar a criminalidade, enquanto 59.9% consideram que a disponibilização de informação online aumentou a confiança nas autoridades. Por outro lado, 65.3% das transações quotidianas já não são feitas em dinheiro.

Um futuro marcado por crescentes incertezas

Pelo quinto ano consecutivo, a cidade de Zurique mantém-se firme na liderança do IMD Smart City Index, que em 2024 posiciona Oslo em segundo lugar e Camberra em terceiro. Genebra, em quarto lugar, e Singapura, em quinto, completam o Top 5. Olhando em perspetiva, salta à vista o facto de este as cidades asiáticas e europeias serem as mais representadas no Top 20 deste ano, com as norte-americanas a perder face a edições anteriores ao ficarem ausentes dos primeiros vinte lugares da tabela.

«As cidades têm de conceber e adotar estratégias capazes de resistir a um futuro marcado por crescentes incertezas», comenta Bruno Lavin, Presidente do Observatório de Cidades Inteligentes do IMD. De acordo com o responsável, os resultados do Smart City Index mostram que em 2024 «as preocupações relacionadas com a saúde permanecem elevadas, e as relacionadas com o clima aumentam ainda mais – uma combinação complexificada por tensões internacionais renovadas. A confiança e a boa governação estão a ganhar importância, e a importância da Inteligência Artificial na conceção e na gestão das cidades deverá aumentar. Por mais contraintuitivo que possa parecer, a Inteligência Artificial pode ajudar as cidades a tornarem-se mais centradas nas pessoas».